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domingo, 2 de junho de 2013

Faz algum tempo





Aquela menina dos olhos claros... Ela é o engodo autodenominado. Ouvi que está foragida, qual foi o crime? Ninguém sabe. E a recompensa pelo seu encontro? Nenhuma, o que não muda nada: todos a procuram. Que pena ter de admitir a mediocridade na vida - eu a procuro também.

Essa menina... Dela eu não ouso recordar o verdadeiro nome. Apenas porque só pude conhecer metade das alcunhas que teve; e a outra metade, que não me foi dado saber, me dói.

Quão duvidosa me é a memória: conheci-a tão bem e ainda hoje não sei quem ela é. E àqueles a quem perguntei, responderam: acho que é divina, acho que é fantasma, acho que é puta.
Engraçado. Sempre supus ser ela muito mais que mero ponto de discórdia universal.

Sim, eu sei: entre o divino e o vivo, entre o divino e o morto, entre o real, o animal e o ficcional, além daquele mar, atrás da minha parede, ela reside.

Tu me ouves? Pois me permita a metáfora: és sereia no aquário. Não, não lembrarei jamais teu nome, pois me exaspera saber que um dia já te dei o meu.

Aquela menina dos olhos claros... Um dia cantou para mim. E dizia: é o dom do desapego o que você precisa... O que você precisa, sim.
terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ad Infinitum


Despejei um copo
De palavras
Desejei escopo
Parágrafos
Infernos
Análises
Parafernálias
Anáguas
Águas e ─
Águas!
Perdoem-me
Se o grito ecoa
(e destoa)
Minha sede é eterna.
domingo, 21 de outubro de 2012

Acreditei


Sonhos todos
Sonhos tolos
Somos todos tolos
Uns tolos que vagueiam por aí.
Eu,
mais que tolo
Me perdi.
Caixa quadrada
guardava minha vida mas
caixa redonda
fiz existir
Então,
Rolei por aí.
Whisky eu pedi
Água tépida veio
Um copo de cloro
Outro de flúor
Sóbrios dias
Claros devaneios
Igualmente - Caí.
Meia noite
A rua me espera
Mas a porta do quarto me fecha.
Vai esperar pra sempre.
Os verdadeiros loucos
São loucos
De vícios poucos e
e mãos limpas.
Uns verdadeiros tolos...
Sonhos todos
Que criei
Amei
E destruí
Pelo ralo se foram
Já que do esgoto nada destoam
- foi assim que ouvi.
Mas não parti.
A caixa ainda me guarda
A porta ainda me fecha
A vida
Quadrada ou redonda
Curta ou longa
É simples.
Água doce tomei
Salgada devolvi.
- Ô vida boa...
Foi assim que acreditei
No que menti.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Distorted Reality Is Now A Necessity To Be Free


Com seus membros imóveis e seus olhos atentos, ali estava ele: como um crocodilo imerso em um aquário repleto de peixinhos. 
domingo, 18 de dezembro de 2011

calabouço


Sim, eu admiro a tua sombra. Admiro-a como quem admira as páginas que sobraram do livro,  outrora atirado à fogueira das inquietações mundanas. Pois que, enquanto tu queimas no vazio que existe entre o que foi e o que será, tua sombra permanece para fazer-me dúvida, crer-te sano, enquanto todas as outras verdades se prostituem.
Que mais poderá constituir teu trono pecaminoso? Quem mais poderá enlaçar-te plenamente, inefável fugaz? Acabaram-se os mistérios da idoneidade; esgotaram-se os ingênuos; escaparam-lhe das mãos os fracos. Quantos mais virão? E se você soubesse que apenas repete a história?  Escondido em falso júbilo, está o calabouço do mistério dos covardes.
Mandei que atirassem ao fogo, também, as chaves.

Estarei sonhando?
Olhos miram o passado, o presente, a distância
- entre eles, entre nós –
Estarei vislumbrando?
Tua infância, minha relíquia
Emoldurada em memória
Esbanjando, em mim,
E de mim,
 desvarios.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Casaco


 A casa antiga
Visito todo inverno.

Dão-me boas vindas,
Vastas cantigas
E o sorriso quente dos mais velhos.

- Menina! Que mãos frias!
Aqui o seu casaco,
O sol da vidraça,
Um cobertor pesado,
 A botija,
O chá de guaco

E o teu passado.

Lágrimas brotam sobre efígie estática
Um retrato
Um casaco
Uma lembrança
O mesmo casaco
Um ponteiro
Um relógio
Uma esperança.
Nas mãos, o mesmo
Casaco e tempo.
Não, não o tempo.


-  Avozinha,
 guarde-o bem
Venho buscá-lo ano que vem.



 

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